O todo que se autogoverna

Equilíbrio da vida

O universo, assim como o planeta e até mesmo nosso próprio organismo possuem leis as quais mantêm a organização dos corpos e de seus funcionamentos. Da mesma forma como há o conjunto de leis humanas a qual são baseadas principalmente na insegurança e no medo. Contudo as leis que regem a Natureza se baseiam, no meu entendimento, na constante busca de equilíbrio. Criação e dissolução; vida e morte; luz e trevas, dia e noite, feminino e masculino.
De certa forma cada culturas interpretam de diferentes maneiras estas leis naturais embora algumas tenham incorporado-as a seus conjuntos de crenças. Eu as vejo como uma grande orquestra donde o maestro apenas estas a conduzir os músicos. Onde talvez alguns músicos possam solar em cima da melodia principal mesmo que muitos não tenham tanta autonomia. Assim sinto ser o universo. Uma constante canção onde artistas tocam, cantam, dançam, provocam-se e divertem-se. Num espiral cíclico de involução e evolução. Onde tudo que é executado ressoa até regressar a origem. Independente de bom ou mal tudo que se faz carrega honra.

As leis que regem a Terra

Texto inspirado em ensinamentos transmitidos por Kaká Werá Jacupê (instituto Arapoty),
índio Tchucarramãe, criado por Guaranis em uma aldeia do estado de São Paulo.

1ª Amor

A Terra nos oferece os seus frutos indefinidamente, sem nada pedir em troca. Nos provê alimento, abrigo, vestimenta, água. Este ato de amor incondicional pode ser comparado ao comprometimento de uma mãe, que se doa por amor ao seu filho e a ele provê tudo que precisa para desenvolver-se e evoluir.

2ª Diversidade

A vida se faz presente na diversidade e mostra a interdependência que favorece a colaboração. Graças à diversidade, a vida brota e se transforma. A diversidade sustenta a vida. Temos de reaprender a respeitar as diferenças. A diversidade nos mostra os diferentes papeis que favorece a colaboração. Temos de reaprender a colaborar uns com os outros e encarar as nossas diferenças como uma oportunidade de trabalharmos juntos, servindo mutuamente, transformando, unindo nossas realidades e de nos completarmos. Podemos olhar nossas diferenças como olhamos a linda combinação de cores do arco-íris, que como um tecido, onde cada fio tem seu papel e um fio não faz o serviço do outro, mas se unem em uma teia de interconexões. Nenhum fio age com interesse próprio, mas age para dar força e resistência ao tecido. Ao destruirmos a diversidade, temos que recuperar o equilíbrio com artificialismos, que geram mais artificialismos, numa cadeia de manipulação da realidade e de geração de desequilíbrio.

3ª Opostos que se completam

Dia e noite; sol e lua; luz e escuridão. A natureza precisa do dia, assim como precisa da noite. Processos que ocorrem à noite não ocorrem à luz do sol e vice-versa. Precisamos do frio e precisamos do calor. Há que existir o macho e a fêmea. É a eterna dança das polaridades opostas que se complementam e perpetuam a vida.

4ª Plantio e colheita

Devemos ter cuidado nas consequências dos nossos atos. Prestar atenção a quem estamos servindo: a Vida ou aos próprios interesses. Sentindo-se parte da teia da vida, posso conduzir minha liberdade de forma que ela acabe onde começa a do próximo ser vivo.
Se plantarmos milho, colheremos milho. Se plantarmos mandioca, colheremos mandioca. Se plantarmos devastação, colheremos devastação. Pensamentos plantados são colhidos. Sentimentos plantados são colhidos. Muito cuidado com o que estamos cultivando.

5ª Semente

Somos um microcosmo da Mãe Terra. Na semente está toda a essência do ser adulto. Nenhuma semente é igual à outra, assim como nenhum ser adulto é igual ao outro. Somos diversos e ao mesmo tempo somos únicos – é a sagrada individualidade.

6ª Dissolução(Morte)

Uma árvore vira madeira, sobra galho que vira lenha e vai pro fogo. Vira cinzas e volta para a terra. A água evapora, vira nuvem o qual vira chuva, cai, mata sede e retorna para terra. O velho dá espaço ao novo e assim a vida se perpetua.

7ª Vida eterna

Tudo recomeça após a dissolução. Cada ser oferece os seus elementos para a continuidade da vida e se eterniza neste processo.
Poema